Em
viagem recente, tive a oportunidade de visitar o Vale dos Vinhedos, no Rio
Grande do Sul, e aprender um pouco mais sobre o vinho. Como se sabe, o país tem
se notabilizado por um grande progresso na qualidade de seu vinho.
Para
aperfeiçoar a qualidade de nosso vinho, uma das providências foi diminuir a
produção de uva por hectare. Antes, produzia-se de 20 a 25 mil quilos por hectare
e, para se ter um bom vinho, reduziu-se a produção para a faixa de 10 a 13 mil quilos de uva por
hectare. A iniciativa funcionou: o vinho ficou melhor.
Para
diminuir a produção de uva, os viticultores cortam parte dos cachos em formação. Em média,
de cada três cachos dois são cortados. E o corte se justifica, pois os
nutrientes e a força da parreira precisam ser direcionados. Se a parreira tiver
que dividir seus nutrientes para três cachos, a uva fica menos doce, mais
fraca, com menos qualidade. Além disso, quando os cachos ficam juntos, diminui
a incidência de luz solar sobre eles e... eles ficam mais fracos. Para que haja
mais luz, chega-se a cortar as folhas que ficam perto dos cachos.
Depois
de muitos e muitos concursos, com várias reprovações e, depois, vários
primeiros lugares, comecei a me lembrar do assunto, enquanto o técnico em
viticultura e enologia, Stevan Arcari, funcionário da Casa Valduga, explanava o
tema. Era a manhã de um belo feriado e eu caminhava com ele pelos vinhedos.
A
administração do tempo do concursando é como fazer a uva e o vinho ficarem
melhores. Se você quiser uma boa qualidade de estudo, e sucesso na produção do
vinho, quer dizer, na sua produção nas provas, vai precisar fazer uns cortes.
Ao cortar as atividades supérfluas (os cachos extras...) e ao organizar bem as
atividades indispensáveis, você estará direcionando os “nutrientes” de que seu
estudo precisa para dar certo. Você vai precisar cortar algumas folhas para que
o “sol” do tempo e da concentração ilumine seus livros, sua mente e sua
aprendizagem. Aparentemente, você estará perdendo produção, fazendo menos, mas
será como o vinhedo que abaixa de 25 para 10 toneladas de uvas por hectare: as
uvas que surgem são melhores.
Anos
atrás, o vinho brasileiro era discriminado e “reprovado”; depois que os
produtores tiveram coragem de melhorar a qualidade e fazer os cortes
recomendados, nosso vinho passou a ganhar prêmios e medalhas no exterior. O
Merlot Premium 99, da Valduga, ganhou nove medalhas! E você ganhará as suas,
seus justos prêmios e aprovações, nomeações e cargos, a partir do tempo em que
se organizar. Claro que, até colher as uvas, leva algum tempo, mas – como se
sabe – concurso público não é para passar, mas até passar.
Outro
dado relevante é que o vinho brasileiro é apontado com um dos melhores do mundo
para evitar problemas cardíacos. A dose recomendada pela Organização Mundial da
Saúde – OMS para que o consumo de vinho faça bem ao corpo é a de
aproximadamente 300 ml por dia. Nessa dose, ele ajuda até mesmo ao fígado. Por
outro lado, o consumo excessivo é causa de cirrose e de outros problemas de
saúde, de grande parte das internações hospitalares, dos acidentes de trânsito
e de uma série de tragédias, como perda de carreiras pelo alcoolismo, problemas
familiares, separações e divórcios. Como se sabe, a única diferença entre o
veneno e o remédio é a dose. O consumo de vinho na dose correta contribui para
sua saúde; em excesso, pode se transformar em vício e causar tragédias. É
preciso responsabilidade, pois.
E
a administração do seu tempo demanda o mesmo cuidado. É preciso esforço para
alcançar sua aprovação, o vencimento certo, o status, a aposentadoria, a bela
carreira pública, a chance de fazer diferença no país. Mas este esforço tem que
respeitar limites para que o remédio não envenene sua qualidade de vida. Não
adianta estudar tanto que você não agüente o longo e trabalhoso processo de
preparação.
Há
atividades que não podem ser esquecidas: o sono na medida certa, alguma
atividade física, algum lazer e o tempo para você aproveitar seu parceiro
amoroso e sua família. Tentar eliminar estas atividades é contraproducente.
Outro cuidado é separar algum tempo para sua relação com Deus. Algum tempo para
ajudar o próximo e, em especial, pelo menos cinco minutos por dia, quando você
pára, respira, não pensa em nada senão em como você está, onde quer chegar,
onde pode acertar, onde errou e pode melhorar. Uma das inteligências é saber
lidar com seu próprio eu, é conseguir ficar sozinho e se sentir bem. Claro que
você pode usar estes cinco minutos para ouvir uma música e relaxar. O
importante é que são só cinco minutos, mas cinco minutos que vão fazer seu
organismo, sua mente e a qualidade de sua vida melhorar.
Nunca
pense que a solução é só estudar. O candidato mais produtivo não é o que estuda
mais, mas sim o que estuda melhor. Com um pouco de esforço, você poderá organizar
sua vida de modo a estudar o máximo possível, mas mantendo um mínimo de
sanidade e equilíbrio. Um candidato que faz isso rende mais no estudo e não
“surta” nem desiste no meio do caminho.
Outro
dado sobre vinho. Perguntei ao técnico, que em breve se formará em nível
superior em viticultura e enologia, se era realmente verdade que nosso vinho é
melhor para o coração do que os vinhos estrangeiros. Seria só marketing ou o
que o Brasil tem é de fato melhor?
A
resposta foi espetacular. As substâncias que ajudam o coração e diminuem o
risco de enfartes são os polifenóis; dentro dos polifenóis, há o grupo dos
estilbenos (o mais famoso dos estilbenos é o resveratrol). Os estilbenos são
absorvidos pela corrente sanguínea e transformam o LDL (colesterol ruim) em HDL
(colesterol bom). Este tipo de polifenol é a principal defesa natural que a uva
cria para proteger-se dos fungos. E, como o Brasil tem um sério problema de
fungos, nossa uva tem mais estilbenos que as uvas e os vinhos produzidos na
maioria das outras regiões vitivinícolas do mundo. Dessa forma, o fungo, que é
um drama para o viticultor, torna nosso vinho mais especial. Se o produtor
brasileiro conseguir fazer o fungo não destruir a produção de seu vinhedo, a
uva bem cuidada que sair do vinhedo será a melhor para a saúde do que aquelas
uvazinhas plantadas em lugares sem tantos transtornos e dificuldades.
Mais
uma vez o concurso. As dificuldades por que você está passando, hoje, podem ser
comparadas aos fungos: vão dar um trabalho extraordinário, vão exigir esforço,
fé, persistência, garra. Em compensação, você terá no sangue o equivalente
emocional aos polifenóis das uvas. As dificuldades que não o vencerem vão
transformá-lo em alguém mais forte, mas experiente, mais capacitado. Quando
você chegar ao seu grau de maturidade para passar nas provas, verá que parte do
candidato mais sério, organizado e preparado em que se transformou é fruto das
dificuldades que exigiram sua melhora.
Esse
breve texto é um estímulo para você continuar se esforçando. Organize bem seu
tempo, de modo que haja “nutrientes” para alimentar seu projeto de carreira;
saiba dosar seu tempo para que as coisas funcionem como remédio, e não como
veneno, e, por fim, lembre-se de que as dificuldades apenas estão moldando um
vinho, digo, um candidato mais forte e especial.
Willian Douglas